Primeira versão publicada em 8 de março de 2023; primeira atualização em 18 de maio de 2023.

 

HISTÓRICO

FASES E NOTAS BIOBIBLIOGRÁFICAS

DEPOIMENTOS E MEMORIAIS

HOMENAGENS

FOTOS

PUBLICAÇÕES

 

Desde seu surgimento como Seção de Filosofia da FAFI, o Departamento de Filosofia da UFMG passou por sucessivas alterações em seu corpo docente e no aparato institucional, ao longo de uma história rica e variada, protagonizada por docentes, pesquisadores e pesquisadoras de várias gerações.

Neste percurso de oito décadas é possível reconhecer três etapas, composta [1] na primeira fase, pela geração heroica, recobrindo a “velha guarda” e tendo à testa os fundadores, cujo período vai dos anos quarenta ao início dos cinquenta; [2] na segunda fase, ou etapa intermediária, caracterizada pela expansão e consolidação do quadro docente, que se segue à etapa anterior, meados da década de cinquenta, e se estende até o fim dos anos sessenta e início dos anos setenta; [3] na terceira e última fase, ou etapa atual, definida pela especialização e profissionalização do Departamento em suas diferentes atividades, sob o influxo da pós-graduação, atuando em escala nacional e imprimindo nos diferentes campos da pesquisa e da produção acadêmica um padrão internacional.

 

 

1ª Fase: Os Fundadores e a Geração Heroica

Tendo por ambiente os prédios da então Casa d’Itália, do Instituto de Educação e do Edifício Acaiaca, esta fase remonta, como foi lembrado, ao ano de 1939, quando a FAFI foi fundada por iniciativa de um grupo de nove professores do então Colégio Marconi, dos quais dois de Filosofia: Arthur Versiani Vellôso e Padre Clóvis de Sousa e Silva, cujos nomes e respectivas assinaturas estão consignados na Ata da Assembleia de Fundação, com mais de trinta presentes, abarcando diferentes áreas do conhecimento.

Rigorosamente, ambos são os fundadores do nosso Departamento, especialmente o Prof. Vellôso, então Diretor do Colégio Marconi, mais tarde vice-Diretor e Diretor da Faculdade, reconhecida liderança intelectual da cidade, personagem de crônicas, biografias e romances, e o grande pioneiro da filosofia laica em Minas Gerais.

A marca proeminente do corpo docente desta época, exíguo, proporcional ao número de estudantes de filosofia e às demandas das diferentes seções da nova Faculdade, era a sua óbvia exogenia, e não poderia ser diferente, em parte composto por professores leigos e autodidatas, vindos do direito, com a graduação tão-somente, salvo exceções, e em parte clérigos, com dupla formação em filosofia e teologia.

Outra marca do corpo docente era a sua hierarquização, à testa o sistema de Cátedras, um total de duas na Seção de Filosofia, tendo por titulares os Profs. Arthur Versiani Vellôso (cátedra de História da Filosofia) e Padre Clóvis de Sousa e Silva (Cátedra de Filosofia), com seus respectivos doutorados (Vellôso acumulando o doutoramento em Direito e em Filosofia, no antigo sistema do doutorado direto), ambos obtidos e reconhecidos na instituição e pela futura UMG.

Além das Cátedras, a Seção de Filosofia, para atender às necessidades do Curso, contava com professores assistentes no quadro permanente, assim como contratados ou substitutos. Dentre estes: Edgar Godoi da Mata-Machado, que atuava na Faculdade de Direito e também na FAFI, onde lecionava na Seção de Filosofia, desde 1941, sucessivamente Introdução à Filosofia e Lógica; Arnold Conrad Paul Ansorge, contratado desde 1948 como assistente da Cátedra de História da Filosofia; João Camillo de Oliveira Torres, como assistente de Ética, desde 1950; Pero Botelho, contratado igualmente desde 1950 como assistente de Lógica, Introdução à Filosofia e Didática de Filosofia; Monsenhor Lauro Fernandes de Carvalho, assistente contratado de Filosofia (sem referência de data da contratação); e Padre Orlando de Oliveira Vilela, contratado como assistente de Introdução à Filosofia e Estética (sem data).

Por fim, mais ou menos no fim da fase inicial, a Seção de Filosofia contava em 1953 com oito professores, dos quais um estava licenciado, Edgar da Mata-Machado, e tendo depois perdido Conrad Ansorge, que era alemão e se mudou para São Paulo. A este seleto grupo podemos nos referir como Geração heroica e aos dois catedráticos iniciais, os Profs. Vellôso e Padre Clóvis, como os nossos Heróis fundadores. Especialmente, o Prof. Vellôso, como foi lembrado e reconhecerá a posteridade, tanto no âmbito da Faculdade ao dar-lhe o nome do Prédio quanto no da Seção e depois Departamento de Filosofia. E devendo ainda ser ressaltado, coisa rara na história das instituições, e em especial hoje em dia, que o primeiro contingente de professores, não à toa chamada de geração heroica – por uns bons sete anos, antes da estadualização da Faculdade em 1948 – se dedicou com todo empenho, em suas atividades didáticas e tarefas administrativas, por amor à causa, pro bono.

Fonte: Anuário da Faculdade de Filosofia da Universidade de Minas Gerais, 1953.

 

 

Notas Biobibliográficas

 

Arnulf Conrad Paul Ansorge (1894-1954)

Natural de Weimar, Alemanha, onde nasceu em 17 de setembro de 1894. Filho do compositor, pianista e aluno de Franz Liszt, Conrad Reinhold Ansorge e da também pianista Margarete Wegelin. Ingressou na UFMG em 1948, como professor contratado, onde permaneceu por seis anos, até seu falecimento, com atuação em História da Filosofia, cadeira n. 2, na área de filosofia grega. Fez seus estudos superiores em Colônia, Heidelberg, Marburgo e Berlim respectivamente em Filosofia, Matemática, História e Germanística. Em Heidelberg, foi aluno de Heinrich Rickert, e em Berlim de Alois Riehl, Ernst Troeltsch e Ernst Cassirer. Realizou seu curso de doutorado na Universidade de Colônia, quando no início do 1920 defendeu a tese Über die metaphysischen Voraussetzungen des wissenschaftlichen Denkens [“Sobre os pré-requisitos metafísicos do pensamento científico”], disponível para ser baixada por completo aqui.

Dentre suas atividades pedagógicas, as últimas quando vivia na Europa, estão, na Alemanha, as de professor catedrático do Colégio Francês de Estado, em Berlim, onde lecionou Germanística e História da Filosofia, e, na França, as de professor contratado na Universidade de Paris, Sorbonne, onde ministrou curso especial sobre Literatura e Filosofia Alemã. No Brasil, depois de uma curta permanência no Rio de Janeiro, três anos finda a Segunda Grande Guerra, instalou-se em Belo Horizonte, onde atuou respectivamente na velha FAFI da então Universidade de Minas Gerais, desde 1948, lecionando Filosofia Grega, e na Faculdade de Filosofia de Santa Maria, a partir de 1952, onde ministrou cursos, igualmente, de Filosofia Grega. Faleceu em Belo Horizonte em 17 de outubro de 1954.

Segundo os registros da FAFI, Ansorge não publicou livros de sua lavra, mas, sim, alguns artigos em revistas da França e da Alemanha, sem, todavia, listá-los. 

Sua estada no Brasil, embora curta, deixou marcas importantes na filosofia em Minas Gerais, devendo ser-lhe creditada a formação de Sylvio Barata, que o sucedeu, como discípulo, na cadeira de Filosofia Grega, tendo recebido de suas mãos um manuscrito importante sobre Sócrates, bem como ser-lhe atribuído um dos elos e mesmo o fio da meada da história do busto de Kant da FAFICH, tendo como protagonista o Prof. Vellôso, como se sabe, que era próximo do alemão ilustre. 

Por fim, na Biblioteca da FAFICH há um portrait em sua homenagem, de autoria de Gentil Garcez, datado de 1959.

(Fontes: Catálogo da Universidade de Colônia (Registro da tese de Arnulf) e Arquivo Histórico da Universidade de Colônia (Ficha de Matrícula e Registro da Promoção como Doutor de Arnulf). Desta instituição, agradecemos a Andreas Freitäger, Michaela Grocholl e Hannah Lüscher pelo acesso aos documentos. O Anuário da FAFI, 1953, p. 375-376, esclarece que a área de doutoramento é Filosofia Teórica e História da Filosofia. Para mais informações, consultar sobre o busto de Kant e sua associação com Ansorge o artigo de Patrícia Kauark que saiu pela Kriterion com o título de “Imagens de Kant na FAFICH”, especificamente p. 146-147. Sobre a influência ou ao menos a presença de Ansorge na filosofia paulista, cf. a Revista de História, da USP, Noticiário, n. 20, 1954, p. 503, onde se fala de suas estadas em São Paulo e de sua participação num memorável concurso na FFLCH, sem maiores precisões: de fato, na Seção de Filosofia, em 1950, de cuja banca fez parte Arthur Versiani Velloso e no fim do qual foi habilitado Cruz Costa.) 

 

Arthur Versiani Vellôso (1906-1986)

Foi um dos fundadores da FAFICH da UFMG. Nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, e formou-se em Direito na UFMG em 1928, onde também concluiu o doutorado em 1933 com a tese Os Princípios Metafísicos do direito em Kant. De 1934 a 1936 estudou filosofia no Instituto Católico de Estudos Superiores do Rio de Janeiro. Em 1939, foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia, que em 1948 seria integrada à Universidade de Minas Gerais, futura UFMG. Lá também foi professor de filosofia até a sua aposentadoria, em 1976, onde também fundou o periódico Kriterion, que por muito tempo dirigiu. Também foi responsável por trazer diversos professores à instituição, tais como Lima Vaz, Sylvio Barata, José Henrique Santos e Marilene Brunelli (como a própria testemunha logo no início de seu depoimento à Comissão). Também foi professor de segundo grau em várias instituições, tais como o Colégio Estadual de Minas Gerais e fundador e catedrático do Colégio Marconi, todos com intenso intercâmbio de alunos e professores com a Faculdade de Filosofia. Foi membro da Academia Mineira de Letras, ocupando a cadeira nº 18. É possível ler aqui um texto escrito em sua homenagem pelo Prof. José Henrique Santos, publicado pela Academia por ocasião de seu centenário. Os Profs. José Henrique e Rodrigo Duarte também publicaram artigos na Kriterion em sua homenagem, respectivamente, nos números nº 85 de 1992 e nº 95 de 1997. Como mostra artigo da Profa. Patrícia Kauark, Vellôso foi também o grande responsável pela presença das imagens de Kant na FAFICH, dentre as quais se destaca o busto que figura no primeiro andar da Faculdade.

 

Edgar Godoi da Mata-Machado (1913-1993)

Nasceu em Diamantina, Minas Gerais. Ingressou na carreira docente em setembro de 1954 na Faculdade de Direito da UFMG, onde se formou jurista. Também foi jornalista e professor. Na PUC-MG, foi professor de direito; no Colégio Santa Maria, de filosofia; enquanto na Faculdade de Filosofia ocupou por alguns anos a cadeira de introdução à filosofia e, por muitos anos, a cadeira de lógica. Em 1962, eleito deputado federal, indica José Henrique dos Santos para substituí-lo no Departamento de Filosofia. Em 1969, quando deputado federal do MDB, foi cassado pelo AI-5, assim como compulsoriamente aposentado da Universidade. Seu filho, José Carlos Novais da Mata Machado, militante da Ação Popular, foi torturado e assassinado em 1973, quando sob custódia de órgãos de segurança. Em 1975 foi eleito como membro da AML, cujo discurso de posse pode ser acessado aqui. Foi senador pelo PSDB de 1990 a 1991. Em 1981, reassumiu seu cargo na UFMG, onde se aposentou em 1986. Publicou diversos livros, dentre eles Elementos de teoria geral do direito (1972). Um verbete do CPDOC é dedicado à sua biografia política e acadêmica.

 

João Camillo de Oliveira Torres (1915-1973)

Nasceu em Itabira e faleceu em Belo Horizonte. Fazia parte da velha guarda do Departamento, contratado em 1950 e aposentado em 1967. Depois de concluir os estudos primários na cidade interiorana, fez os estudos secundários em Belo Horizonte e iniciou sua formação em filosofia, nível universitário, na Universidade do Distrito Federal: a UDF, fechada em 1939 por um ato de força de Getúlio Vargas, onde teve como professor, entre outros, Padre Maurílio Penido, depois professor da UFRJ, eminente bergsoniano, de quem sofreu sólida influência.

Ao longo de sua vida, viu seu nome associado a três frentes de atividades: como professor, com atuação na Faculdade de Filosofia Santa Maria, na PUC-Minas e na FAFI/UMG, depois UFMG, nas quais lecionava filosofia (Ética) e história; como jornalista, especialmente em O Diário, do qual foi redator, e em Folha de Minas, como colaborador, seguidos do Estado de Minas e Diário da Tarde, em Belo Horizonte, tendo contribuído regularmente em grandes jornais do sul e do sudeste, como o Correio do Povo, em Porto Alegre, o Estado de São Paulo na capital paulista, e O Jornal, Correio da Manhã e Última Hora, entre outros, no Rio de Janeiro; e como administrador, enquanto delegado do IAPC (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários) e superintendente do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social) em Minas Gerais, depois da grande unificação do sistema previdenciário (1966). Em todas estas frentes, foi muito influente, como pensador e como historiador no plano acadêmico, com reconhecimento nacional, e como intelectual público, graças à sua grande visibilidade como jornalista e administrador público, à testa do IAPC e mais ainda do INPS.

Especificamente no plano acadêmico, ele dizia que era um “bígamo”, vivendo em concubinato com a história e a filosofia, como registra em sua autobiografia, ainda inédita, à qual deu o título de O homem interino, concluída em 1967. Na mesma obra ele assinala que, ao longo do tempo, a história ganhou proeminência, sendo ele antes de tudo um historiador, com dezenas de obras consagradas à história de Minas e do Brasil, várias delas premiadas, e apenas uma ou outra consagrada à filosofia. E desde logo, com amplo reconhecimento de seus pares da ciência de Clio, valendo-lhe a nomeada de eminente especialista na história do Império, e, em contraste, bem menos em filosofia, como ele reconhece em sua biografia, dizendo-se que era um diletante, ao se ocupar de Ética ao longo dos anos: matéria em que se via às voltas com a axiologia de Max Scheler, a contrapelo de Kant, tendo a moral cristã ao fundo, e da qual se desincumbiu ao migrar para a Seção de História da mesma Faculdade, assim como na PUC-Minas.

Sobre o seu ideário e as ascendências e afinidades eletivas em Filosofia, João Camillo era antes de tudo um pensador católico, tendo como ascendentes na tradição filosófica Duns Scotus (ser efetivo) e Francisco Suárez (teoria do consensus e do pactum subjectionis), e como afinidades eletivas no pensamento contemporâneo Jacques Maritain (humanismo integral), Henri Bergson (espiritualismo francês) e Teilhard Chardin (gnose cósmica). No Brasil, além da influência de Padre Penido, que era bergsoniano, reconhece a proximidade com Euryalo Canabrava, que era mineiro, com quem esteve em contato quando morava e estudava no Rio e que, segundo ele, estava em sua fase existencialista.

No plano da política, em suas obras de história do Brasil, consagradas ao séc. XIX e à monarquia brasileira, e em sua atuação como jornalista, com uma profusão de artigos publicados sobre a conjuntura política nacional e as urgências do tempo, João Camillo foi nacionalmente conhecido como eminente monarquista e partidário da monarquia constitucional, mas empenhado no “solidarismo” da doutrina social da igreja, revelando grande afinidade com as monarquias sociais-democratas da Escandinávia.

Tendo publicado antes de tudo em história, aos borbotões, suas obras de filosofia ou que se encontram nas vizinhanças são poucas, podendo ser mencionadas, além da Teoria geral da história – de fato filosofia da história, pela qual tinha grande apreço –, a influente O positivismo no Brasil e, ainda, A extraordinária aventura do homem comum.

Para a apreciação do conjunto da obra de João Camillo de Oliveira Torres, especialmente no campo da história – das ideias políticas, de Minas Gerais e do Brasil Império –, ver o excelente discurso de posse de Edgar Godoi da Mata-Machado na Academia Mineira de Letras, ao ocupar em 1975 a cadeira n. 39 de seu antecessor, de quem era próximo e que ele tanto admirava.

Para mais pesquisa sobre sua obra e sua atuação como agente público, jornalista e professor, inclusive a consulta de sua autobiografia até hoje inédita, O homem interino, recomenda-se a consulta do acervo da PUC-Minas, disponível na Biblioteca do Coração Eucarístico, com suas impressionantes 250 laudas do Office.

Para a versão estendida dessa notícia, com mais detalhes sobre a biobibliografia de João Camillo, consultar a matéria de autoria de Ivan Domingues.

 

Padre Clóvis de Souza e Silva (1908-??)

Nasceu em Monte Azul, Minas Gerais. Estudou filosofia em São Paulo (Seminário Seráfico) e em Rovereto na Itália. Prosseguiu sua formação em nível superior cursando teologia na Itália (Seminário Internacional de Trento) e em Belo Horizonte (Seminário da Diocese). Doutor em Filosofia pela Faculdade de Filosofia da UMG (regime doutorado direto, concedido pela Congregação da Faculdade, cujos estatuto e organograma previam a titulação e o ritual, a exemplo de outras faculdades e universidades do país). Além de co-fundador e professor da FAFI, onde era regente da Cátedra de Filosofia Geral, atuou como clérigo na Paróquia de Santo Antônio, localizada nas cerca­nias da futura Faculdade da Rua Carangola, e foi liderança política na capital, tendo sido vice-prefeito de Belo Horizonte no período 1959-1962, gestão Amintas de Barros, e chegando a assumir o cargo de prefeito por alguns meses, quando o titular se desincompatibilizou para se candidatar a deputado. Segundo sua súmula curricular que consta do Anuário da Faculdade, várias vezes referido, foi autor de vários artigos publicados em jornais e revistas de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.

 

Padre Orlando de Oliveira Vilela (1914-1989)

Nasceu em Alpinópolis, Minas Gerais, e faleceu em Belo Horizonte. Formou-se no Seminário Nossa Senhora Auxiliadora de Guaxupé. Foi professor da FAFI e da Faculdade de Filosofia Santa Maria – então Universidade Católica e hoje PUC-Minas, onde também foi diretor e exerceu considerável influência. Foi leitor do tomista Jacques Maritain e estudioso da antropologia filosófica cristã, estética e história da filosofia medieval. Sua obra filosófica é vasta, a qual destacamos O Drama Heloisa-Abelardo (1981), lançado originalmente pela Editora Fumarc e depois reeditado pela Loyola e Itatiaia. Também se dedicou à literatura, onde se distinguiu por suas memórias dos tempos de seminário, Duelo de um Anjo Cão (1973), e Um burro e sua sombra (1976), ambos publicados pela Editora Itatiaia.

O historiador José Iglair Lopes a ele dedica páginas de sua História de Alpinópolis (2002: pp. 192-196). Para mais detalhes de sua vida e obra, confirir a nota de Ricardo Fenati. Seu colega de seminário e amigo, o economista e político Roberto Campos, observa que em toda a sua trajetória acadêmica e religiosa, Orlando se notava pela inteligência e rebeldia.

 

 

2ª Fase: Expansão e Consolidação

O ambiente ou o locus é ainda os quatro últimos andares do Acaiaca e ao qual se junta o novo Prédio da Rua Carangola, num primeiro momento nos quadros institucionais da então FAFI e, num segundo, da nova FAFICH, remodelada por duas reformas: primeira, a da própria UFMG em 1966, já referida, na qual os Profs. José Henrique Santos e Hugo Pereira do Amaral tiveram papel importante; depois, a Reforma Universitária do governo federal em 1968, que criou os Departamentos e extinguiu o sistema de Cátedras e sua regência única, quase uma monarquia, pelo sistema dos Professores Titulares e o corpo à parte dos Adjuntos, Assistentes e Auxiliares de Ensino.

A marca por excelência do conjunto do corpo docente é a sua crescente endogenia, numa clara inversão de perspectivas frente à fase anterior, com a Seção de Filosofia, a exemplo das outras semelhantes, formando seus próprios professores e professoras, como serão os casos de José Henrique Santos, Luiz de Carvalho Bicalho, Sylvio Barata Vianna, somando-lhes Ângela Mascarenhas Santos, a primeira mulher contratada, seguida de Lidia Acerbone, Marilene Brunelli, Sônia Viegas e Maria Eugênia Dias de Oliveira.

Seguem ainda atuantes professores da velha guarda, como Padre Clóvis de Souza e Silva, João Camillo O. Torres, Padre Orlando Vilela e o Arthur Versiani Vellôso, que continua à testa do Departamento, depois de ter sido Diretor da Faculdade, às voltas com a edificação do Prédio novo da Rua Carangola, inaugurado em 1962, e em seguida de volta ao Departamento, exercendo sua liderança inconfundível, ao protagonizar a transição da segunda para a terceira e definitiva etapa da Seção de Filosofia da FAFI, depois Departamento da FAFICH, iniciada quando ele já estava se aposentando: a fase da profissionalização e seu par, a especialização, ao vencer o autodidatismo / diletantismo da primeira etapa que ele tanto combatera, estimulando e abrindo caminho para a formação dos professores nas melhores universidades europeias. Tal será o caso de José Henrique Santos, que será o pioneiro, numa série que não iria se interromper mais, iniciada com ele nos anos sessenta, na Alemanha.

Além dos professores autóctones, gerados na própria Seção, depois Departamento, haverá aqueles com formação em outras instituições, como Moacyr Laterza, com graduação em filosofia pela Faculdade de Filosofia de Santa Maria, em Belo Horizonte, e Master in Philosophy pela Universidade de Notre Dame nos Estados Unidos. E especialmente Padre Vaz, sem dúvida a contratação mais importante da segunda fase, aquele que é justamente um dos maiores filósofos brasileiros de todos os tempos, que era jesuíta, formado em filosofia na Faculdade da Cia de Jesus de Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, e com Doutorado na Gregoriana de Roma: vale dizer, Henrique Cláudio de Lima Vaz, contratado em 1965, quando se encontrava afastado do ensino em instituições religiosas, devido a questões políticas, por decisão da hierarquia da Cia e da própria Igreja Católica sediada na ex-capital federal (Vaz era ligado à esquerda católica e o país se encontrava em plena ditadura militar), tendo se mudado para Belo Horizonte em fins de 1964, quando aceitou o convite para atuar na Seção de Filosofia, onde lecionou, agradecido, por uns bons vinte anos.

Por fim, integra esta fase – já em plena transição para a terceira e última, nos quadros da expansão e consolidação do Departamento, depois da Reforma Universitária de 1968, ao promover sua expansão em nível da graduação no âmbito da própria Faculdade, bem como das Ciências Econômicas – um conjunto de jovens professores contratado para atuar no Ciclo Básico de Ciências Sociais, como foi lembrado: entre estes, Ricardo Fenati, Carlos Drawin, Ivan Domingues e Paulo Margutti, que iriam atuar também no Departamento e mais tarde na pós-graduação, continuando em atividades quando a fase intermediária estava encerrada, devendo pois o registro sobre eles se dar na terceira etapa.

 

 

Notas Biobibliográficas

 

Ângela Mascarenhas Santos (1934-2021)

Nasceu em Corinto, Minas Gerais. Junto de Marilene Brunelli, foi uma das primeiras mulheres a integrar o Departamento de Filosofia, tendo nele se tornado professora em 1960 e se aposentado no final dos 1980. Estudou na Faculdade de Filosofia ainda no Edifício Acaiaca, junto de seu futuro marido e colega de Departamento, professor José Henrique. Especialista em filosofia moderna, foi titular da disciplina dedicada à área.

Também foi professora da PUC Minas e da Universidade Estadual de Minas Gerais. Teve grande importância na consolidação da graduação em filosofia, onde era muito elogiada por sua didática exemplar, assim como por suas atividades e dedicação como coordenadora do curso por vários anos. Nesse período, contribuiu para a superação do autodidatismo ao implantar um bacharelado mais acadêmico, com foco nas histórias da filosofia e em cursos temáticos, então chamados monográficos, onde se aliava ensino e pesquisa.

Em texto publicado no site da UFMG por ocasião de seu falecimento, seu filho Eduardo Mascarenhas Santos, professor da Arquitetura da UFMG, diz que Ângela “sabia equilibrar muito bem as atividades intelectual e docente com o cuidado da família”, frequentemente recebendo alunas e alunos em sua casa. De Ricardo Fenati é nota em sua homenagem.

 

Christóvam Colombo dos Santos (1890-1980)

Foi matemático, físico e filósofo. Formou-se na Escola de Minas de Ouro Preto em 1914 e lá se tornou professor em 1915. Da Escola de Minas também é Professor Emérito, tendo sido agraciado com a “Medalha Escola de Minas” no ano de 2015, em homenagem post mortem (Pereira, 2022). Também foi professor na Escola de Engenharia da UFMG,onde ensinou física e matemática. Lecionou filosofia da matemática como colaborador permanente por muitos anos. Publicou artigos e livros de matemática e física, e durante as décadas de 1920 e 1930 foi um dos pioneiros entre os pensadores do ensino de matemática (D’Ambrosio, 1999). Dentre suas obras, destacam-se Cálculo Vetorial. Lições Professadas na Escola de Minas de Ouro Preto (1927); Introdução ao Cálculo Tensorial e à Geometria Riemanniana (1960); Bases Culturais da Matemática (1972); Teoria da Relatividade Especial de Einstein (1973). Foi pai de Pedro Paulo Christóvam dos Santos, também professor do Departamento.

Fontes: Pereira, Vinicius Mendes Couto, “A matemática nos primórdios da Escola de Minas de Ouro Preto: uma visão geral”. Boletim Cearense de Educação e História da Matemática, 9(26), pp. 291-305, doi: 10.30938/bocehm.v9i26.8027, 2022; D’Ambrosio, Ubiratan, “História da Matemática no Brasil: uma visão panorâmica até 1950”; Saber y Tiempo, 2(8), pp. 7-37, 1999.

 

Henrique Cláudio de Lima Vaz (1921-2002)

Nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais. Foi padre jesuíta, filósofo e intelectual público, influente na vida nacional, tendo oferecido interpretação original do idealismo alemão no país. Em 1938, foi admitido na Companhia de Jesus em Nova Friburgo. Em Roma, ordenou-se padre jesuíta em 1948 e na Pontifícia Universidade Gregoriana da mesma cidade estudou teologia e se doutorou em filosofia (1953), com tese sobre a dialética e intuição nos diálogos de Platão.

Lecionou na Faculdade de Filosofia Anchieta de Nova Friburgo (1953-1963) e atuou no Departamento de Filosofia da UFMG entre 1964 e 1985. Foi o primeiro Coordenador do Mestrado em Filosofia da UFMG, em 1974. Formou e influenciou uma série de filósofos e filósofas de diferentes gerações do Departamento, tais como Sônia Viegas, Marilene Brunelli, Maria Eugênia de Oliveira e Carlos Roberto Drawin. Encabeçou a comissão de professores que redigiu o projeto do curso de filosofia da UFOP. Teve forte presença na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, a FAJE, em Belo Horizonte, onde organizou o curso de filosofia, além de ter convidado professores e professoras da UFMG, como Hugo Amaral, Marilene Brunelli e Maria Eugênia, a integrarem a recente instituição. Nela está sediado o Memorial Padre Vaz, onde encontramos o acervo de sua vasta produção bibliográfica pessoal, como livros, entrevistas, artigos, cadernos de estudos e outras preciosidades.

Estudioso de Platão, Tomás de Aquino e Hegel (além de ter feito estudos em filosofia moderna), antropologia, cultura, direito e ética, Vaz se considerava alinhado à tradição filosófica ocidental e cristã, e a partir dela desenvolveu um pensamento original, por vezes dedicado aos problemas nacionais. Pode-se conferir apresentação de seu percurso intelectual e filosófico em homenagem, escrita por Danilo Mondonie, da revista Síntese por ocasião de seu falecimento, e texto de Ivan Domingues por ocasião de seus cem anos. Em textos publicados na mesma revista, quando de sua morte, Carlos Drawin discute o espaço da metafísica em seu pensamento antropológico, ético e cultural, enquanto Javier Herrero analisa sua antropologia filosófica. Uma apresentação de sua concepção do fazer filosófico num país como o Brasil pode ser encontrada em entrevista a Marcos Nobre e José Márcio Rego, em Conversas com filósofos brasileiros (2000), da Editora 34. Recentemente, em fins de 2022, a Academia Mineira de Letras disponibilizou uma videoaula sobre os legados acadêmicos de Padre Vaz, em encomenda a Ivan Domingues e que pode ser acessada aqui.

Padre Vaz escreveu centenas de artigos e dezenas de livros, dentre os quais Escritos de Filosofia (sete volumes, incluindo três consagrados à Ética), Antropologia Filosófica (dois volumes), e Ética e Direito. Nos últimos anos, tem-se publicado suas obras inéditas como, por exemplo, Contemplação e Dialética nos Diálogos Platônicos (2012), A Formação do Pensamento de Hegel (2014), Introdução ao pensamento de Hegel (2020), Filosofia da natureza e filosofia do mundo (2022) e sua tradução de Ciências da Lógica de Hegel (2022). A bibliografia completa de Lima Vaz, que integra Memorial da FAJE, pode ser encontrada aqui.

Em contraste com sua vida discreta e poucas manifestações públicas, teve grande relevância política, a ponto de Paulo Arantes caracterizá-lo como um “intelectual público clandestino”, ou seja, público e paradoxalmente privado, sendo que no período que antecedeu ao golpe militar suas ideias forneceram as bases intelectuais de dois dos principais movimentos populares de então: a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP). A AP foi um movimento popular de esquerda, cujo socialismo cristão representava uma alternativa ao nacional-desenvolvimentismo e ao marxismo. Ainda que tenha se afastado da organização quando ela enveredou para o marxismo, mesmo antes Lima Vaz sofreu retaliações da Igreja, ao se ver afastado das atividades de ensino, inclusive na Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo, sua alma mater, observando o chamado “silêncio obsequioso”, e, depois do golpe militar, foi perseguido pelo regime em razão de sua atuação política, intimado a prestar depoimentos e processado pela ditadura, tendo sido seu processo arquivado em 1968, um pouco antes do AI-5.

Concluindo, o filósofo foi Doutor Honoris Causa pela Faculdade da Companhia de Jesus, Professor Emérito da UFMG e, em homenagem póstuma, recebeu em 2019 a Medalha Reitor Mendes Pimentel pela Reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida.

 

José Henrique Santos (1934-presente)

Natural de Paracatu, Minas Gerais. Foi um dos grandes responsáveis pela consolidação e profissionalização do Departamento de Filosofia da UFMG. Estudou na Faculdade de Filosofia, junto de sua futura esposa e colega de Departamento, professora Ângela Mascarenhas. Foi professor do Departamento de 1961 até os 1990 e, quando Chefe do Departamento, iniciou a implantação de seu Programa de Pós-Graduação. Também foi Vice-reitor, de 1978 a 1982, e Reitor da UFMG no período de 1982 a 1986. Suas atuações como administrador deram origem a várias publicações, sendo a primeira o livro Plano de reforma da UFMG (1967), escrito em parceria com outro professor do Departamento, Hugo Amaral. Também escreveu “Atualidade e perspectiva da universidade brasileira” (1985), publicado em Universidade Brasileira: Organização e Problemas e “A universidade e a cultura brasileira” (1990), publicado na revista Síntese.

Foi professor convidado da Albert-Ludwigs Universität de Freiburg im Breisgau, da Alemanha, onde concluiu curso de especialização em 1964. Em 1988, deu aulas na Universitaet Tübingen, também da Alemanha. Tornou-se membro da Academia Mineira de Letras em 1992, ocupando a cadeira nº 18, ao suceder o professor Versiani Vellôso, quem, aliás, havia sido seu professor desde os tempos de Colégio Estadual. Em 2009, tornou-se Professor Emérito da UFMG. Afastado das atividades acadêmicas, não dos livros, hoje reside em São Paulo.

Estudioso do idealismo alemão e da fenomenologia, publicou os livros Do empirismo à fenomenologia (1973), Trabalho e riqueza na fenomenologia do espírito de Hegel (1993), O trabalho do negativo – ensaios sobre a fenomenologia do espírito (2007) e, em meio à pandemia, O Paraíso Perdido: ensaios de reconciliação (2020). Em 2002, em sua homenagem foi lançado Ética, Política e Cultura, organizado pelos professores Ivan Domingues, Paulo Margutti e Rodrigo Duarte. É possível conferir dois textos escritos em sua homenagem: Um, do professor Leonardo Vieira, publicado na Kriterion nº 107, por ocasião de lançamento da obra de 2002 e acompanhado do discurso do próprio homenageado. Outro, escrito por Ivan Domingues em 2020, para o lançamento de O Paraíso Perdido.

 

Lidia Acerboni (1941-presente)

Italiana, natural de Milão, atuou na UFMG no período 1965-1971. Estudou filosofia na Università Cattolica de Milão, onde defendeu o mestrado (Tesi di laurea no sistema italiano) em 1964, com a dissertação “La filosofia contemporanea in Brasile”. Era vinculada ao movimento de renovação cristã Gioventú studentesca (GS), de orientação progressista e atual Comunione e Liberazione, e alinhada às reformas introduzidas pelo Concílio Vaticano II que iriam impactar a Ação Católica na Itália e no Brasil. Em 1965 embarcou para o Brasil com destino a Belo Horizonte, quando integrou, como missionária laica, um grupo de milaneses da GS, liderado pelo Pe. Alberto Antoniazzi, tendo ele se vinculado ao chegar à Arquidiocese, que deu cobertura ao grupo, em seguida à PUC-Minas, onde foi influente como professor de filosofia e gestor acadêmico, bem como ao CNBB, do qual foi secretário geral. Em 1968 Lidia Acerboni publicou sua dissertação de mestrado no Brasil, como livro, na coleção Estante do Pensamento Brasileiro coeditada pela Edusp e a Editorial Grijalbo, com o título A filosofia contemporânea no Brasil, Prefácio de Miguel Reale, que era igualmente o diretor da Coleção.

Ligada a Pe. Vaz, Lidia teve papel proeminente na edição da obra Ontologia e história, que saiu pela Ed. Duas Cidades, em 1968. Depois da saída da UFMG em 1971, muito pouco se sabe da trajetória de Lidia Acerboni no Brasil. Por fim, na década de 90 voltou para a Itália, onde passou a atuar como professora de italiano para estrangeiros e como mediadora cultural para integração de estudantes de língua árabe e famílias estrangeiras na Itália. O último registro, datado de 2008, nos dá conta de que a nossa ex-colega atuava como professora de uma escola para estrangeiros em Milão.

(Nossos agradecimentos a Giorgia Cecchinato pelo levantamento de informações importantes sobre a biografia de Lidia Acerboni. Para mais informações sobre a atuação do GS e de Lidia em Belo Horizonte, consultar a tese de doutorado de Massimo Bonato, intitulada Igreja Católica e modernização social no Brasil – A crise do catolicismo a partir da experiência missionária de um grupo de jovens italianos nos 1960, defendida na USP no PPG em Sociologia em 2014. As referências diretas a Lidia e sua ligação com o grupo GS são poucas e aparecem nas p. 207, 271 e 272, com destaque para o estudo “Brasil la porta stretta dell’occidente”, a cura de Lidia Acerboni e Paolo Padovani, e que registra a mudança de perspectiva do grupo em direção ao terceiro-mundismo e oposição ao neocolonialismo. Milano Studenti, N. 3, Gennaio, 1968.)

 

Luiz de Carvalho Bicalho (1920-1994)

Nasceu em Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais. Atuou no Departamento no período 1964-1988, depois de antes contratado pelo então Colégio de Aplicação e o Departamento de História. Paralelamente à UFMG, lecionou filosofia e outras matérias no Colégio Municipal, onde se aposentou em 1980. Foi Livre-docente em filosofia pela UFMG, Professor Emérito da FAFICH (1994) e um dos fundadores da UnB, integrando o grupo liderado por Darcy Ribeiro, além do Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e Montes Claros (Apubh). Foi um dos três formandos da primeira turma do Curso de Graduação em Filosofia da UFMG. Estudioso do marxismo e de Jean-Paul Sartre, nos 1950 foi o dirigente máximo do PCB (então Partido Comunista do Brasil) em Minas Gerais.

Nos anos setenta e oitenta ofereceu um curso sobre O Capital de Marx, do qual participaram Newton Bignotto, Rodrigo Duarte e Ivan Domingues, em plena ditadura militar, atraindo alunos e alunas de diferentes Departamentos e Faculdades da UFMG. Dele saiu o livro O Capital – Resumo Literal (1979), onde condensa os três volumes da obra magna de Marx.

Sobre ele, pode-se ler seu próprio texto, além dos escritos pelos professores Hugo Pereira do Amaral e Ivan Domingues, quando da concessão do título de emérito, todos publicados na Kriterion, nº 91, de 1995 (Para consulta, ver infra, Publicações). Em sua homenagem foi nomeado o auditório no 1º andar da FAFICH, em frente à biblioteca.
A Editora da UFMG publicou em 2023 livro em sua homenagem, pelo selo Incipit, dedicado aos grandes nomes da Universidade. Entre textos do professor, de colegas e pessoas de sua amizade, destaca-se artigo onde Bicalho reflete sobre a grande greve docente de 1984, realizada de 15 de maio a 8 de agosto.

 

Moacyr Laterza (1928-2004)

Nasceu em Uberaba, Minas Gerais. Tornou-se professor da Faculdade de Filosofia em 1955, tendo se aposentado como professor adjunto em fevereiro de 1986. Entrementes, licenciado da UFMG, foi professor no início dos anos setenta, em Goiânia, na UFG. É Mestre em Filosofia pela Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos. Também foi poeta, tradutor e crítico de arte, além de teórico da educação. Em filosofia, seu campo de atuação foi filosofia da educação e, principalmente, estética, onde realizou estudos sobre o barroco mineiro. Junto de sua ex-orientanda, Sônia Viegas, e também professora do Departamento, fundou o Laboratório de Estética da FAFICH, cuja proposta era aproximar a filosofia das artes através da organização de aulas-espetáculo, música, exposição de artes plásticas e declamação de poemas. Após o Golpe de 1964, foi preso no DOPS de Belo Horizonte, tendo encontrado em sua cela outro professor do Departamento detido, José de Anchieta. Entre várias obras, publicou Canto que amanhece (1955, poesia), Filosofia da Educação (1971, dois volumes), Bracher (1989, crítica de arte, juntamente com Ferreira Gullar) e tradução de A intuição criadora, de Jacques Maritain (com Léa Laterza). A UFMG publicou notícia por ocasião de seu falecimento e em sua homenagem Ricardo Fenati escreveu texto dirigiada ao “professor Moacyr”. Uma entrevista com o professor, realizada em vídeo em 2001, pode ser conferida aqui.

 

Sônia Maria Viegas de Andrade (1944-1989)

Nasceu em Belo Horizonte. Foi pensadora da cultura e da educação, além de muito ativa no cenário cultural de Belo Horizonte na década de 1980, à frente de várias iniciativas.

Na infância, venceu concurso da extinta TV Itacolomi em torno da obra de Monteiro Lobato. Foi professora do Departamento de Filosofia da UFMG de 1967 até 1989. Professora celebrada por suas aulas vibrantes que atraíam estudantes de diferentes disciplinas da universidade, além do público de Belo Horizonte. Em 1985, fundou o Núcleo de Filosofia, onde eram oferecidos cursos de história e filosofia da arte a pessoas de dentro e fora da Universidade. Também participou intensamente do “Cinema Comentado”, no então Savassi Cine Clube, onde se discutiam filmes a partir da filosofia. Sua casa era ponto de encontro de professores e alunos da Faculdade.

Seu pensamento foi fortemente influenciado pelos professores Lima Vaz e Moacyr Laterza (seu orientador de mestrado). Sua dissertação, A palavra poética e a palavra filosófica no Grande Sertão: Veredas (1977), recebeu o prêmio “Cidade de Belo Horizonte” em 1984, e foi publicada no ano seguinte como A vereda trágica do Grande Sertão: Veredas. Postumamente, foi publicado Cinema Comentado: crônicas e ensaios (1990). Em 2009, é publicada em três volumes uma reunião de seus escritos filosóficos e de natureza pessoal, Sônia Viegas, Escritos: vida filosófica (2009), organizado pelo professor do Departamento e seu ex-aluno, Marcelo Pimenta Marques. Em 2019, a professora do Departamento, Miriam Peixoto, lança sua biografia, Sônia Viegas, uma pensadora da cultura. No ano seguinte, Peixoto também escreveu verbete para o Blog Mulheres na Filosofia, onde apresenta sua trajetória e obra, além de listagem com dezenas de seus artigos (acadêmicos e para a imprensa), livros e coleções. Sônia teve duas filhas, Mônica, economista e professora da UFMG, e Ângela, fisioterapeuta e que também foi professora da UFMG. Ambas se dedicam à preservação e divulgação do legado de sua mãe, associadas às publicações e outras iniciativas. Auditório no 1º andar da FAFICH, às costas da cantina da Faculdade de Letras, carrega seu nome em homenagem.

 

Sylvio Barata de Azevedo Vianna (1913-1998)

Estudou Direito na UFMG e foi advogado da extinta Rede Ferroviária Federal. Estudou Filosofia na antiga FAFI de Minas Gerais, então UMG, e, posteriormente, foi convidado pelo Prof. Vellôso para se tornar professor de Filosofia Grega Antiga, campo ao qual dedicou a maior parte de seus estudos. Admirador de Platão, sua maior especialidade consistia nos filósofos Pré-Socráticos, não obstante também ter feito pesquisas sobre filósofos helenísticos e filosofia árabe medieval. O Idealismo em Parmênides de Eléia, sua tese de Livre Docência, foi apresentada à UFMG em 1973. Também é autor de Ensaios de História da Filosofia, publicado em 1990. São diversos seus artigos que figuram na revista Kriterion. Ao final da edição nº 102 de 2000 da revista, é possível encontrar levantamento bibliográfico de sua obra.

Suas aulas eram marcadas pela pontualidade, precisão conceitual, cordialidade e um manifesto amor pelos livros. Era ávido leitor da Enciclopédia Britânica, tendo nela encontrado três erros que, após ter os indicado aos seus editores, foram acolhidos nas edições futuras da publicação. Sylvio foi paraninfo da primeira turma de Filosofia que, desde o início da Ditadura Militar, depois de anos de resistência, realizou colação de grau. Exímio pianista, seu estilo preferido era tango.

Para mais detalhes sobre a personalidade e generosa relação de Sylvio Barata com suas alunas e alunos, conferir a matéria de autoria da Profa. Magda Guadalupe dos Santos, aluna do professor quando a Fafich ainda estava localizada na Rua Carangola.

 

Theobaldo Oppa (1914-1983)

Nasceu em Lençóis, na Bahia. Estudou filosofia na FAFI e foi Secretário e Redator-Chefe da revista da Faculdade de Filosofia da UFMG, a Kriterion (conforme é possível conferir neste Decreto Federal, assinado pelo então presidente, Juscelino Kubitschek, e seu ministro da educação, Clóvis Salgado). Criada por Arthur Versiani Vellôso, a revista contou com Oppa posteriormente como seu Editor.

Na apresentação do número comemorativo dos cinquenta anos da revista, o então editor da revista, Prof. Paulo Margutti escreve emocionante relato sobre seu contato com o Sr. Oppa nos 1980. Segundo Margutti, mesmo acometido e combalido por doença terminal, Oppa participou de reuniões para reestruturação da revista com “a pertinência, a firmeza e a decisão” que demonstravam seu fascínio pela obra impressa.

 

Tufi Bistene (1924-1987)

Atuou no Departamento de Filosofia da UFMG de 1962 até 1987, quando veio a falecer. Também foi professor municipal. Defendeu sua dissertação de mestrado, Reflexões e comentários sobre o espaço e o tempo em Kant (pode ser encontrada aqui), em 1985, sob orientação do Prof. José Henrique Santos, e dedicada ao Prof. Vellôso.

 

 

Ressalte-se que, além dos docentes remanescentes do grupo do Ciclo Básico, já mencionados, alguns nomes arrolados neste período, de expansão e transição, reaparecem na terceira e última etapa, a ser consignada em seguida. Estes são os casos de Sônia Viegas, Luiz de Carvalho Bicalho, Padre Henrique Vaz e Antônio Cota Marçal, não sendo necessário repetir suas Notas Biobibliográficas. Já para Antônio Cota Marçal não há a Nota respectiva, por se julgar ociosa ou redundante, uma vez que dele há um completo depoimento, a exemplo de outros e outras colegas, como Maria Eugênia e Marilene Brunelli, cuja listagem aparecerá na próxima seção.

 

 

 

3ª Fase: Especialização, Escala Nacional e Internacionalização

O ambiente é a velha FAFICH, da Rua Carangola 288, meados dos anos setenta e fins dos anos oitenta, e, mais ainda, a nova FAFICH, instalada no Campus da UFMG da Pampulha, desde 1992, e chegando aos nossos dias.

Trata-se da nova fase do Departamento e de seu corpo docente, a terceira e última, com as quatro características ou marcas que os definem:

  1. o fim da endogenia que caracterizava a fase anterior e a implantação de uma nova exogenia, em tudo diferente da primeira etapa, consubstanciada na própria filosofia e suas especialidades, acarretando a necessidade de atração de quadros de todos os pontos do país e até do estrangeiro, e, portanto, extrínseca ou externa, cujo resultado é a nacionalização e internacionalização do Departamento;
  2. a expansão das atividades do Departamento na direção da pesquisa e da pós-graduação, levada a cabo pela implantação do Mestrado em 1974 e do Doutorado em 1992, acarretando a necessidade de expertises bem definidas, com os especialistas disciplinares ou scholars à testa dos processos, cujo resultado é a profissionalização da filosofia, tendo como contrapartes o fim do diletantismo ainda presente na segunda etapa e o advento de uma filosofia mais e mais técnica;
  3. a inserção do Departamento, e em especial da pós-graduação, em seus dois níveis, mestrado e doutorado, na Agora transnacional e transcultural da produção intelectual e do debate das ideias, levando à padronização da produção filosófica e da agenda das discussões – à sua internacionalização, em suma –, com as vantagens e os riscos que este novo quadro acarreta, ao se ver desafiado pelos males da taylorização do conhecimento ou do produtivismo acadêmico, como o processo é também conhecido, exigindo dos atores acautelamento e circunspeção;
  4. a maior atenção à formação de docentes para o ensino básico, em especial o ensino médio. É possível atribuir esse crescente espaço da Licenciatura a dois fatores. Primeiro, o maior espaço – ainda que sujeito às idas e vindas da política nacional – da filosofia no ensino básico, especialmente ensino médio, em conexão com os exames de admissão para o ensino superior público (primeiro pelo vestibular, como na UFMG, e posteriormente pelo Enem, usado para ingresso em todas as universidades federais do país pelo SISU). Segundo, a concorrência cada vez maior encontrada por candidatos a concursos à docência no ensino superior. Tudo levou ao aumento na quantidade de egressos da Graduação que ocupam cargos de ensino em colégios públicos, privados, além de em institutos federais.

Este é, portanto, o cenário dos Departamentos dos dias de hoje, num processo consumado nos últimos quarenta-cinquenta anos, no início levado a cabo por jovens professores ou egressos da casa que fizeram seus doutorados nas melhores universidades da Europa continental, sediadas na França e Alemanha, bem como na Inglaterra e nos Estados Unidos, ao dar sequência a um processo iniciado nos anos sessenta e concluído nos anos setenta, na Bélgica, em Louvain. E depois, continuado com os novos doutores formados pela casa e por outras instituições, evidenciando que a nacionalização do Departamento e a internacionalização da Pós-Graduação, fundadas sobre a especialização do conhecimento e as exigências da filosofia técnica, caminharam em todo esse tempo juntas e são, em verdade, as duas faces de uma mesma moeda e as contrapartes de um processo já antevisto e ansiado pelo Prof. Vellôso, que é o pai fundador e está na origem tudo.

Sobre a quarta característica, um traço curioso dos rumos tomados pelo Departamento nos últimos anos – influenciado, aqui como alhures, por processos políticos e econômicos nacionais – é um reencontro às avessas, por assim dizer, com sua origem. Lembremos que os fundadores da Faculdade de Filosofia, no final dos anos 1930, eram professores do Colégio Marconi, dos quais dois atuando na Seção de Filosofia, um deles o Prof. Vellôso. O número de atuantes na Seção de Filosofia iria aumentar nos anos cinquenta, atingindo seis ou sete docentes, em boa parte clérigos e autodidatas, enquanto, paralelamente, em seu corpo discente, apenas uma pequena parte viria a se dedicar ao estudo da filosofia profissional integralmente, e assim viver da e para a filosofia, visando a atuar no ensino superior. Paralelamente, eram escassas as oportunidades nos ensinos médio e fundamental. Agora, ocorre o inverso: faltam vagas no ensino superior, como comentado, onde a competição é dura, estando sobrando doutoras e doutores, e formam-se quadros em filosofia de nível superior, inclusive na pós-graduação, para atuar no ensino básico. Esses discentes de nível básico seguem outros passos do Prof. Vellôso, com atuação memorável nos Colégios Estadual e Marconi, numa época em que a escala e as oportunidades eram mais acanhadas. Eles, agora, vivem num contexto de acesso à educação mais democrático, mas com desafio inédito de conciliar as demandas e limitações do ensino básico – especialmente, o público em nível médio – com as peculiaridades e potencial do ensino de filosofia para aquelas e aqueles que a ela não se dedicarão profissionalmente, motivando em sua época as desconfianças do saudoso Professor. Trata-se de outra missão da filosofia e seu ensino em nosso tempo, num país que lhe virou as costas, tendo-a tirado sua obrigatoriedade dos currículos do ensino médio a partir de 2017, à diferença de outros países, inclusive das Américas, como a Argentina e o Uruguai.

Hoje, passados tantos anos, muitos dos protagonistas desta etapa já estão aposentados, senão falecidos, estando o Departamento em renovação contínua com as coerções da filosofia profissional ou acadêmica na linha de frente e definindo as escolhas, ao passar a tarefa da continuidade dessas experiências e de suas tradições, com suas memórias e as novas exigências do tempo ou da hora, às novas gerações que já chegaram ou estão para chegar.

 

 

Notas Biobibliográficas

 

Célio Garcia (1930-2020)

Nasceu em Fortaleza. Foi um dos precursores da psicologia social e da psicanálise lacaniana no Brasil, além de ter contribuído para os estudos em psicologia da educação e psicanálise. Pesquisador de Jacques Lacan, promoveu a interlocução entre pesquisadores brasileiros e franceses. Junto de outro professor do Departamento, José de Anchieta, Célio foi guia e intérprete de Michel Foucault quando, em uma de suas visitas ao Brasil em 1973, visitaram o Hospital Psiquiátrico André Luís. Nos anos 1990, contribuiu para a vinda de Alain Badiou que aqui realizou uma série de seminários e cujo conteúdo foi registrado em livro, do qual Célio é organizador.

Graduou-se em letras na Faculdade Católica de Filosofia do Ceará e na Université Paris 1, Sorbonne, com ênfase em psicologia (1959) e doutorou-se em psicologia pela UFMG (1965). Na França, frequentou os célebres seminários de Lacan. Também foi assessor de pesquisa em educação sanitária no Ministério da Saúde e desenvolveu projeto de clínica e qualificação profissional para menores infratores.

Garcia foi Professor Emérito da UFMG, onde atuou de 1964 a 1993. Atuou principalmente no Departamento de Psicologia, tendo também lecionado como colaborador permanente na Pós-Graduação em Filosofia. Publicou quinze livros, dentre os quais Clínica do social (1997), Psicanálise, política e lógica (1995), Psicanálise do brasileiro (1997) e Psicanálise, psicologia, psiquiatria e saúde mental: interfaces (2002).

Sua biblioteca pessoal, com mais de 5 mil livros, foi doada à UFMG. Organizado por Sério de Campos, Tributo a Célio (2021) foi publicado em sua homenagem, contando com textos de diversos autores, dentre os quais José de Anchieta, professor de Filosofia da UFMG. É possível conferir a homenagem do Departamento de Filosofia, por ocasião de seu falecimento, aqui. Valem também outras duas homenagens: uma no site da UFMG e outra no jornal Estado de Minas. Em 2021, foi lançado o portal Célio Garcia, dedicado à apresentação de sua trajetória, materiais publicados e não publicados.

 

Léa Ferreira Laterza (1930-2001)

Em 1952, concluiu o bacharelado em Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Maria da Universidade Católica de Minas Gerais (atual PUC Minas), e em 1968 se licenciou em Filosofia pela UFMG. Foi professora no ensino secundário (atual ensino médio) em Uberaba e Belo Horizonte. No ensino superior, foi professora de estética e filosofia da ciência na Universidade Federal de Goiás, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Instituto Isabela Hendrix, em Belo Horizonte, e do Departamento de Filosofia da UFMG.

Na UFMG, foi professora de 1975 a 1992, onde se notabilizou pela docência em duas vertentes da filosofia. No antigo 1º Ciclo da área de Ciências Sociais, a qual todos os cursos de graduação da FAFICH – à exceção da Psicologia – se submetiam, Léa foi responsável pelas disciplinas de Lógica do Pensamento Científico, com atenção para a epistemologia das ciências sociais. No curso de Psicologia, também foi responsável pelos cursos de Lógica I e II. No curso de Filosofia, ocupou a cadeira de História da Filosofia Medieval, onde foi a primeira a dedicar atuação contínua na disciplina e foi responsável por sua consolidação. Em 2011, foi publicado, postumamente, artigo de sua autoria em torno do conceito de pessoa entre os gregos, especialmente Platão e Aristóteles.

A professora também participava com afinco das atividades administrativas da Universidade, tendo sido coordenadora da Graduação em Filosofia logo após a mudança da FAFICH para o Campus da Pampulha. Em nota em sua homenagem, publicada na revista Kriterion, Ricardo Fenati afirma que Léa era uma defensora de “um ideal humanista e inclusivo”, que se traduzia em sua biblioteca particular, aberta a consulta de todos. Sua casa, aliás, nos anos 1960 e em meio à ditadura “esteve aberta intelectual e existencialmente a toda uma geração” de professores e alunos.

Léa era cristã, e segundo Fenati era “instrumento de aproximação da vida na variedade de suas dimensões”.

 

Marcelo Pimenta Marques (1956-2016)

Concluiu sua graduação em filosofia pela UFMG em 1983 e seu mestrado em 1989, também na UFMG, com a dissertação O caminho poético de Parmênides, posteriormente publicada e orientada pela Profa. Sônia Maria Andrade Viegas. No período 1993-1997 realizou estudos doutorais na França, em Strasbourg, Université Marc Bloch, sob a orientação de Jean Frère, tendo defendido a tese L’autre et les autres: A propos de l’alterité dans le Sophiste de Platonem 1997. Completando sua formação acadêmica, realizou dois estágios de Pós-doutoramento: na University of Pennsylvânia, em Philadelphia, EUA, em 2005, e na UNICAMP, em Campinas, SP, em 2014.

Foi professor da UFMG, no Departamento de Filosofia, no período 1992-2016, com grande envolvimento no Curso de Graduação, do qual foi coordenador, bem como no Curso de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, no qual se vinculou à Linha de Pesquisa em Filosofia Antiga, seu principal campo de atuação. Lecionou ao longo dos anos nos dois níveis de ensino, com cursos dedicados a Platão e à filosofia pré-socrática, somando-lhes, numa perspectiva diferente, fora do helenismo, cursos de Introdução à Filosofia, Antropologia Filosófica, Filosofia e Literatura, Filosofia no Ensino Médio, entre outros. Em sua apresentação no Currículo Lattes, de seu próprio punho, há o registro de suas principais publicações: 3 livros autorais, 18 artigos em periódicos, 5 livros organizados, 13 capítulos de livros e duas traduções. Dentre seus livros destaca-se Platão, pensador da diferença: Uma leitura do Sofista, publicado pela Editora UFMG em 2006, em cuja origem se encontra a sua tese de doutorado. Outro livro ressaltado por Marcelo no Lattes é O visível e o invisível: Estudos sobre a percepção e o pensamento na filosofia grega antiga, igualmente pela Editora UFMG, datado de 2012, em coautoria com Miriam Campolina e Fernando Rey Puente.

Também muito contribuiu para a filosofia no Ensino Básico e a memória do Departamento. Sobre o primeiro, produziu material didático de filosofia e, junto das Professoras Patrícia Kauark e Telma Birchal, além de outros professores e profissionais de educação, foi convidado pela Secretaria de Educação de Minas Gerais a elaborar proposta para Conteúdo Básico Comum para o Ensino de Filosofia do estado. Em depoimento em sua homenagem, Telma Birchal fala um pouco sobre a dedicação especial de Marcelo ao Ensino Médio. Sobre a memória, organizou seção especial da revista Kriterion em homenagem à Profa. Léa Laterza, além de ter organizado coleção Escritos. Filosofia: filosofia viva, filosofia e arte, vida filosófica, com textos publicados e inéditos da Profa. Sônia Viegas.

Falecido em 2016, segundo o Lattes nesta época o professor da UFMG estava desenvolvendo a pesquisa “A questão filosófica do prazer nos diálogos platônicos”. Sua filha, Elisa Marques, produziu vídeo em sua homenagem que pode ser assistido aqui.

Sobre os aspectos biobiliográficos da carreira de Marcelo Pimenta Marques, podem ser consultados os seguintes textos, em sua maioria tributos ao professor, amigo e colega, por ocasião de seu falecimento, tais como os depoimentos de Jacyntho Brandão, Fernando Rey Puente e Miriam Campolina, proferidos no IV Simpósio Internacional de Estudos Antigos de 2017, organizado em sua homenagem. Mais recentemente, com o mesmo propósito, Alice Serra publicou “‘Começo’: a Marcelo Marques”, vindo a lume no VIII Simpósio Internacional de Estudos Antigos, UFMG, Belo Horizonte, fev./2022.

 

Sandra Neves Abdo (1944-2006)

Nasceu em Belo Horizonte. Após deixar a Escola de Música da UFMG em 1992, foi professora do Departamento de Filosofia da UFMG de 1994 a 2006. Graduou-se (1975), fez Especialização (1980) e Mestrado (1992) no mesmo Departamento. Doutorou-se em Letras em 2002 junto à Universidade de São Paulo, sob a orientação de Maria Helena Nery Garcez, quando levou à defesa a tese Fernando Pessoa: Poeta cético? Em filosofia suas áreas prediletas de estudo eram a Estética e a Filosofia da Arte. Esta preferência intelectual deu segmento à sua formação e atuação como musicista.

Violinista graduada pela Fundação Universidade Mineira de Arte e com curso de especialização em música pela UFMG (1986), Sandra desenvolveu brilhante carreira como musicista, participou da Orquestra da UFMG, foi chefe dos segundos violinos da Orquestra Sinfônica da Escola de Música, chegando, posteriormente, na Orquestra do Palácio das Artes, a integrar o naipe dos primeiros violinos (spalla).

De 1974 a 1988, lecionou como Professora Titular “Música de Câmara” e “Estética” na Escola de Música da FUMA (atual Universidade do Estado de Minas Gerais). O estudo da Filosofia e da Estética fundamentaram racionalmente a prática artística exercida por Sandra Abdo. Como professora do Departamento de Filosofia, Sandra lecionou, orientou alunos, participou de bancas examinadoras, participou de colegiados e eventos, seminários e congressos, pesquisou, traduziu e publicou.

Sua dissertação de Mestrado, A Autonomia da Arte na Estética da Formatividade orientada pela Professora Maria Helena Nery Garcez (USP), posteriormente sua orientadora de Doutorado, somando-lhe o seu artigo “Execução/Interpretação musical: uma abordagem filosófica”, publicado na Revista Per Musi, constituem hoje referência bibliográfica necessária para muitos estudos no campo da música no Brasil.

Ao longo dos anos, depois de concluída sua formação acadêmica em filosofia, dedicou-se à pesquisa sobre a estética e hermenêutica musical de Luigi Pareyson, tendo sobre ele publicado “Filosofia e História” e “Arte e Historicidade na Estética” de Luigi Pareyson”, ambos na revista Síntese, e “Restauro Artístico”, publicado na Kriterion. Dele traduziu “Filosofia da Liberdade”, publicado pela revista Síntese e, junto de Maria Helena Nery Garcez, o livro Verdade e Interpretação, publicada pela editora Martins Fontes.

Sandra estava na Itália, fazendo um pós-doutorado, quando adoeceu. Voltou para Belo Horizonte, foi operada e faleceu em junho de 2006.

(Fontes: DAP da UFMG e Plataforma Lattes do CNPq. Colaboração: Maria Eugênia Dias de Oliveira)



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Segue abaixo a lista completa das Notas Biobliográficas dos professores e professores que atuaram no Departamento, por ordem alfabética, desde a sua fundação e conforme suas respectivas fases ou etapas. Lembramos que uma boa parte dos professores e professoras que atuaram e atuam na 3ª Fase está contemplada na Seção Depoimentos.

 

1ª Fase: Os Fundadores e a Geração Heroica

Arnulf Conrad Ansorge (1894-1954)

Arthur Versiani Vellôso (1906-1986)

Pe. Clóvis de Souza e Silva (1908-?)

Edgar da Mata-Machado (1913-1993)

João Camillo de Oliveira Torres (1915-1973)

Pe. Orlando de Oliveira Vilela (1914-1989)

 

2ª Fase: Expansão e Consolidação

Ângela Mascarenhas dos Santos (1934-2021)

Christóvam Colombo dos Santos (1890-1980)

Pe. Henrique Cláudio de Lima Vaz (1921-2002)

José Henrique Santos (1934-presente)

Lidia Acerboni (1941-presente)

Luiz de Carvalho Bicalho (1920-1994)

Moacyr Laterza (1928-2004)

Sônia Maria Viegas de Andrade (1944-1989)

Sylvio Barata de Azevedo Vianna (1913-1998)

Theobaldo Oppa (1914-1983)

Tufi Bistene (1924-1987)

 

3ª Fase: Especialização, Escala Nacional e Internacionalização

Célio Garcia (1930-2020)

Hugo César da Silva Tavares (????-2023)

Léa Ferreira Laterza (1930-2001)

Marcelo Pimenta Marques (1956-2016)

Sandra Neves Abdo (1944-2006)