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Releituras da Arte de amar, de Ovídio: Naso magister erat

07/02/2022 @ 17:00 - 21/02/2022 @ 18:20

Releituras da Arte de amar, de Ovídio: Naso magister erat

 

Apresentação

A releitura de uma obra da Antiguidade não é apenas a repetição de sua leitura, mas sobretudo a realização de novas interpretações capazes de a ressignificarem nos dias de hoje. Pensando nisso, este evento de extensão, gratuito e aberto ao público, tem como objetivo ler, discutir e refletir sobre os 3 livros da Ars amatoria (Arte de amar), do poeta latino Públio Ovídio Nasão. Estruturada como um poema didático com ensinamentos sobre amor, conquista e sedução (e também sobre poesia), a obra foi considerada uma das razões do suposto exílio de Ovídio e suscita questões envolvendo interpretação literária e censura na Antiguidade.

Nesse polêmico poema, Ovídio concebe o amor como matéria passível de ser ensinada por meio da ars, isto é, da técnica. Com base em toda uma tradição de lugares-comuns da poesia amorosa, ele constrói uma preceptística sobre o amor, com jogos de sedução e manipulação de artifícios, que não deixa de ser eivada de ironias. Mas, para além disso, a obra revela-se ainda uma preceptística poética, ao suscitar reflexões sobre a mistura de gêneros (elegia e poesia didática) e sobre os elementos característicos da elegia amorosa, sua estruturação, seus principais tópoi e as técnicas envolvidas na sua escrita. Desse modo, com justiça, o eu poético afirma ao fim da obra: “Naso magister erat” – “Nasão foi nosso mestre”.

Como é usual na poesia didática, a Arte de amar contém inúmeras digressões ou painéis mitológicos, narrando mitos da tradição com o objetivo de exemplificar os ensinamentos expostos pelo eu poético. Um desses mitos é aquele de Ariadne, princesa de Cnossos abandonada por Teseu na deserta ilha de Naxos, depois de ter auxiliado o herói a escapar do labirinto, e que viria a desposar o deus Baco. O relato (Ars I, 525-562), narrado em meio aos ensinamentos sobre o vinho e suas contribuições nos atos de conquista e sedução, poderia ser facilmente considerado uma écfrase da célebre pintura renascentista de Ticiano, cujo detalhe evocamos como imagem-tema deste ciclo de releituras. Os principais elementos do mito expostos na Arte de amar figuram na pintura, verdadeira narrativa constituída por imagens. Estão presentes o desespero e o lamento de Ariadne diante da partida de Teseu, ao observar o afastamento do navio que transporta seu amado, a desaparecer no horizonte; a chegada do cortejo de Baco, com sátiros, bacantes e o velho Sileno ao redor do carro do deus; a constelação (na parte superior da tela) na qual seria futuramente transformado o diadema de Ariadne…

Em outra recepção do mito, reinterpretado em contexto cristão, Antonio Vieira, no Sermão das Lágrimas de São Pedro, buscando mostrar serem os olhos os únicos órgãos dos sentidos que possuem duas funções – ver e chorar –, as quais não ocorrem simultaneamente, traz o exemplo de Ariadne, nas Heroides, de Ovídio (10, 43): Iamque oculis ereptus eras, tum denique fleui.  “A história pode ser fabulosa, mas a filosofia é verdadeira. Enquanto Ariadne pôde seguir com os olhos a Teseu, estiveram as lágrimas suspensas, embargadas pela vista; mas tanto que já o não pôde ver: Iamque oculis ereptus eras, tirado o impedimento da vista, começaram as lágrimas a correr: Tum denique fleui.” (SLSPV).

O mesmo tema, a visão de um amor partido, encontramos na Arte de amar (I, 525-534), mas o olhar da filha de Minos não é mais capturado pela vela do barco de Teseu, cuja lembrança até mesmo se esvai diante da chegada de Baco e seu cortejo (Ars I, 550). Após os lamentos pelo abandono do herói, o foco da cena torna-se o súbito encontro com o deus, que, entusiasmado, salta do carro no momento em que vê a bela cretense. Amor e desejo à primeira vista para Baco, mas temor e medo para a jovem. A cena, imortalizada nas palavras de Ovídio (que ecoam, evidentemente, o poema 64 de Catulo) e no quadro de Ticiano, carregaria, porém, um (aparente?) paradoxo: tratar do amor como “arte” (ars, técnica; téchne), quando para algumas personagens ele é descrito como súbita paixão. A artificialidade, os engenhos e estratégias planejados seriam inconsistentes com o sentimento espontâneo que pode irromper no encontro de duas pessoas!? A Arte de Amar reverbera questões filosóficas (a natureza de eros,  dos afetos) e, naturalmente, também questões poéticas e políticas do tempo de Ovídio, em uma Roma tão cosmopolita e, oficialmente, pudica. Essas são apenas algumas das questões que serão debatidas neste ciclo ovidiano de encontros.

Bem-vindos/as à Arte de Amar e à de (re)ler textos latinos sobre ela.

Júlia Avellar, Universidade Federal de Uberlândia

Maria Cecília Coelho, Universidade Federal de Minas Gerais

 

Informações básicas

O evento, organizado pela parceria da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), terá carga horária total de 8h, com 3 sessões em formato remoto na Plataforma Zoom e atividades de leitura assíncrona. Cada encontro síncrono envolverá os seguintes momentos: (1) palestra inicial de professores para contextualizar a obra; (2) palestra dos convidados Matheus Trevizam, tradutor da obra para o português, e Ewa Skwara, tradutora da obra para o polonês, que já esteve duas vezes no Brasil e falará em inglês; e (3) momento de discussão, conduzido por debatedores convidados e envolvendo a discussão com o público. O debate será feito através das interações pelo chat ou pelo uso de microfone.

Os encontros acontecerão nos dias 07, 14 e 21 de fevereiro de 2022, sempre às segundas-feiras, de 17h00 às 18h20, por meio da plataforma Zoom.

Os interessados devem se inscrever previamente, a fim de receber o link de acesso para cada sessão, já que há um número limitado de vagas. Ao término do evento, haverá emissão de certificado para os participantes que tiverem assinado as listas de presença e frequentado pelo menos dois dos encontros.

 

Cronograma

07/02/22, às 17h: Boas-vindas e abertura com as organizadoras e diretores de unidades acadêmicas.

Ariel Novodvorski (Diretor do ILEEL/UFU)

Bruno Pinheiro Reis (Diretor da FAFICH/UFMG)

Livro I da Ars amatoria

– Palestra inicial: Júlia Batista Castilho de Avellar (ILEEL/UFU).

– Conferência: Matheus Trevizam (Letras/UFMG).

– Debatedor: Gilson José dos Santos (ILEEL/UFU).

 

14/02/22, das 17h às 18h20 – Livro II da Ars amatoria

– Palestra inicial: Sandra Braga Bianchet  (Letras/UFMG).

– Conferência: Ewa Skwara (Polish and Classical Philology/Adam Mickiewicz University in Poznań).

– Debatedor: Rodrigo Tadeu Gonçalves (Letras/UFPR).

 

21/02/22, das 17h às 18h20 – Livro III da Ars amatoria

– Palestra inicial: Patricia Prata (Letras/Unicamp).

– Conferências: Ewa Skwara (Polish and Classical Philology/Adam Mickiewicz University in Poznań) e Matheus Trevizam (Letras/UFMG).

– Debatedora: Maria Cecília de Miranda N. Coelho (Filosofia/UFMG).

Encerramento com as organizadoras.

 

Organização

Professoras

Júlia Batista Castilho de Avellar (UFU)

Maria Cecília de Miranda N. Coelho (UFMG).

 

Monitoras

Beatriz Lúcia da Silva (UFU)

Larissa Natálie de Souza (UFU)

Najla Cristina de Jesus Gaia (Graduada-UFMG)

Romana Almeida Guimarães (Graduada-UFMG).

 

Vagas: 80 vagas

Carga horária: 8h

Inscrições: pelo formulário https://forms.gle/EbxCR6CnpCoCCza67, que deve ser respondido integralmente e ficará aberto de 24/01/2022 até 06/02/2022.

Contato: releiturasdaars@gmail.com

 

Agradecimentos

às unidades acadêmicas da UFMG e da UFU

– Colegiado de Extensão do Instituto de Letras e Linguística/UFU

– Coordenação de Extensão e Educação Continuada em Letras/UFU

– Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas/UFMG

– Instituto de Letras e Linguística/UFU

– Programa de Pós-graduação em Filosofia/UFMG

– Diretoria de Relações Internacionais/UFMG e “Erasmus (staff mobility agreement: mobility with partner countries/ Prominence Program)”, projeto de cooperação entre o Departamento de Filosofia da UFMG e o de Filologia da Adam Mickiewicz University, que tem desenvolvido atividades interdisciplinares paralelas.

 

aos diretores de unidades acadêmicas

– Ariel Novodvorski, diretor do Instituto de Letras e Linguística da UFU;

– Bruno Pinheiro Reis, diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG.

 

à National Gallery pela autorização do uso da imagem da pintura Bacco e Arianna, de Tiziano.

à designer Camila Carvalho

 

Sugestões bibliográficas

AVELLAR, J. B. C.; TREVIZAM, M. Uma ars poetica ovidiana: metapoesia e ilusionismos na Ars amatoria. Letras Clássicas, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 115-133, 2013. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/letrasclassicas/article/view/118442. Acesso em: 23 nov. 2021.

BARTSCH, S. Eros and the Roman Philosopher. In: BARTSCH, S.; BARTSCHERER, T.  (Editor).  Erotikon: Essays on Eros, Ancient and Modern. Chicago: University of Chicago Press, 2006, 59-90.

DUQUE, G. H. O teatro do amor no primeiro livro da Ars Amatoria: sedução, persuasão e performance. Phaos: Revista de Estudos Clássicos, Campinas, v. 19, p. 1-24, 2019. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/phaos/article/view/13592. Acesso em: 5 jan. 2022.

GHEDINI, F.; TONIOLO, F.; FARINELLA, V. et al. (a cura di). Ovidio. Amori, miti e altre storie. Roma: Artem /L’Erma, 2018.

GIANGRANDE, G. Topoi ellenistici nell’Ars Amatoria. In: GALLO, I. & NICASTRI, L. (orgs.). Cultura poesia ideologia nell’opera di Ovidio. Napoli: Edizioni Scientifiche Italiane, 1991, p. 61–98.

OVÍDIO. Arte de amar. Edição bilíngue. Tradução, introdução e notas de Matheus Trevizam. Campinas: Mercado de Letras, 2016.

OVÍDIO. Amores & Arte de amar. Tradução, introdução e notas de Carlos A. André. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

OVÍDIO. Arte de amar. Traducção em número egual de versos por Antonio Feliciano de Castilho. Tomo I. Rio de Janeiro: Eduardo & Henrique Laemmert, 1862. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=nooaAAAAYAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-PT#v=onepage&q&f=false. Acesso em 5 jan. 2022.

OWIDIUSZ. Sztuka kochania. Przełożyła, wstępem i przypisami opatrzyła Ewa Skwara. Ovid, The Art of Love, Translation, Introduction and Commentary by Ewa Skwara, ISKŚiO UWr., Wrocław 2016,

SHARROCK, A. Seduction and Repetition in Ovid’s ‘Ars Amatoria’ 2. Oxford: Clarendon Press, 1994.

TREVIZAM, M. A elegia erótica romana e a tradição didascálica e como matrizes compositivas da Ars Amatoria de Ovídio. 2003. 280 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, Campinas, 2003. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1601726. Acesso em 5 jan. 2022.

TREVIZAM, M. Poesia didática: Virgílio, Ovídio e Lucrécio. Campinas: UNICAMP, 2014.

Detalhes

Início:
07/02/2022 @ 17:00
Final:
21/02/2022 @ 18:20
Categoria de Evento:
Website:
https://forms.gle/EbxCR6CnpCoCCza67